O hóspede indesejado
Desde a semana passada que ele se instalou cá em casa. Chegou de mansinho, sem bater à porta e, sem que o esperássemos, deu o ar da sua graça, tendo decidido, sem mais, instalar-se por vários dias.
Não foi convidado, nem era sequer bem-vindo. Mas isso não o impediu de se tornar hóspede, daqueles aborrecidos, a quem damos a entender diariamente que está a mais, mas que ele insiste em ficar, ficar e ficar...
Falo, claro, do vírus que se instalou cá em casa. Primeiro na filha mais velha, depois, em mim e, depois ainda, na filha bebé, que não escapou também ao malvado bicho.
Tudo começou por uma febre alta e, desde então, tem andado a brincar às escondidas connosco. Ora aparece, ora desaparece, ora revela-se na febre, ora na tosse, ora nas dores de corpo ou de cabeça. Mas à noite, raramente falha, e é nessa altura que dá o ar da sua graça, lembrando-nos que ainda está entre nós.
Felizmente que, passado uma semana, está quase, quase, de partida. As malas já estão feitas - foram colocadas à porta por mim e pela Laura. E a Emília está quase a fazer o mesmo.
Não foi uma semana fácil. Visitas inesperadas e hóspedes que não são convidados é tudo menos agradável. Mas ele queria vir espreitar a decoração da casa nova e, por isso, decidiu que um só dia não seria suficiente para ver tudo, pelo que optou pelo pacote de uma semana, com tudo incluído.
Nós até temos um quarto de hóspedes, mas ele não se ficou: exigiu ficar no mesmo quarto que nós, ora no meu, ora no quarto delas... E assim temos vivido, até que ele ganhe juízo e vergonha, e vá pregar para outra freguesia.
Se o virem com a mala às costas, não se deixem enganar. O malvado é mesmo perigoso e faz das suas... Protejam-se e nada de abrir portas, janelas ou postigos... Fica a dica de quem se descuidou...