Das (minhas) mudanças
Os últimos tempos têm sido de mudanças.
Mudámos (finalmente) de casa, a Laura entrou na escola pela primeira vez, a Emília, habituada a ter a mana sempre por perto, passou a estar sozinha com os adultos, e, por isso, entre novos ritmos e horários, novas divisões, caixotes por abrir e quartos por compor, os dias foram e têm sido mais mexidos que o normal.
Comecei as minhas "mudanças" de casa há precisamente 20 anos. Na altura, mudei-me dos Açores para o Continente e sabia, no meu íntimo, que a tal mudança talvez fosse definitiva...
Não foi fácil deixar família e amigos para vir para um ambiente estranho, para uma casa (uma Residência Universitária, para ser mais precisa) onde não conhecia praticamente ninguém, para uma Faculdade onde não tinha amigos, para uma cidade que ficava a 2h de avião da minha casa, até à data...
Cinco anos volvidos de uma vida feliz, numa casa que acabou por me acolher da melhor maneira possível, e onde vivi aventuras e guardo ótimas memórias e amigas que ainda hoje mantenho, foi tempo de mudar outra vez.
Desta vez, para um quarto num apartamento, bem no meio de Lisboa, com raparigas dos Açores, que não conhecia, mas que, claro, acabei por conhecer. A experiência foi interessante, e os quartos (nos poucos meses que lá estive mudei uma vez de quarto) onde estive, apesar de não deixarem saudades, deram-me "estaleca" para a vida.
Mal sabia eu, quando lá fui viver, que tudo seria transitório. Em abril desse ano chegou a proposta para ir para a Guiné-Bissau, numa altura em que África já estava totalmente afastada do meu horizonte (o concurso tinha sido em julho e, como não fui chamada, achei que não estava destinado para mim).
Ligaram-me a convidar para ir numa quinta-feira (santa), devendo dar uma resposta até domingo, e, se essa fosse positiva, partir na sexta. Sim, tudo numa semana, e tendo em conta os feriados desta época do ano.
Mal vi a chamada soube que resposta dar: sim. Mas como não podia levar muita coisa, optei por manter o quarto em Lisboa, por mais uns tempos (até porque não sabia se me iria adaptar a Bissau) e coloquei tudo o que achava que fazia sentido (e mais me faria falta) numa mala e meia de viagem.
Em Bissau, tinha à minha espera um apartamento (só para mim!). Tinham-me dito que partilharia casa com uma colega (nada de novo, portanto), mas, na realidade, tinha direito a um T2 só para mim, muito mais do que ousei sonhar até à data.
Já em Bissau, mudei uma vez de apartamento. E só o fiz porque o primeiro que me calhou tinha buracos para o ar condicionado que, para além de deixarem passar os tubos, também deixavam entrar osgas grandes (algumas venenosas), que tornaram os primeiros meses complicados, a este nível...
Sabia, claro, que a vida em Bissau era temporária e que, mais ano, menos ano, teria que voltar a Portugal. O regresso acabou por ser um pouco mais cedo do que desejava, mas, agora, 10 anos volvidos, vejo que foi na altura certa para tudo o que viria a seguir.
Mal soube que regressaria, comecei a saga da procura de casa. Não tinha muito tempo, mas a verdade é que em dois dias de visitas encontrei a casa que chamei pela primeira vez de minha, e que assim o foi até há semana passada.
Nessa altura, enfiar 5 anos de Bissau em poucas malas não foi fácil... Lembro-me de ter pedido a pessoas conhecidas, que não traziam bagagem, para trazer malas minhas e, na hora de passar o controlo alfandegário, uma senhora me ter barrado e perguntado por quanto tempo vinha (isto perante um carrinho com uma "montanha" de malas em cima), ao que respondi "De vez...".
Fui muito feliz nessa casa - onde cheguei solteira e saí casada, onde entrei sem filhos e saí já mãe de duas, onde sorri e chorei, onde o blog cresceu e a mudança de vida se concretizou.
Agora, foi tempo novamente de mudar. Pela primeira vez, mudei sem estar pressionada por circunstâncias da vida e soube bem encontrar este nosso novo cantinho, que entrou por acaso na nossa vida mas que, creio, nos estava destinado. Quem muda, Deus ajuda! Que nos ajude também!