A minha avó Elvina
A minha avó Elvina era tão especial quanto o seu nome.
Tinha um sorriso do tamanho do mundo e um abraço que não tinha fim.
A minha avó Elvina enchia qualquer sala onde entrasse com a sua energia e boa disposição.
A minha avó Elvina era a minha segunda mãe. Em casa dela passei grande parte da minha infância e foi com ela que aprendi a gostar de sopa de tomate ou de fatias douradas, combinadas com queijo picante.
A minha avó Elvina alinhava nas brincadeiras e fazia bolos para os aniversários das minhas bonecas. Ah, e comprava-me sempre livros de banda desenhada quando ia “à cidade”, ao mesmo tempo que me levava a passear aos domingos, na carrinha do meu avó.
A minha avó Elvina tinha amigas espalhadas por toda a ilha e, na época, sem redes sociais que as ligassem, levava-me dias inteiros para casa delas, onde conhecia pessoas diferentes, em terras que, na altura, me pareciam imensamente “distantes”.
A minha avó Elvina deixava-me ficar acordada a ver o “Alô, Alô” e ensinou-me a comer chocolate com pão.
A minha avó Elvina cheirava rapé com as amigas, adorava chá e dava, às escondidas, o pão do dia a quem precisasse mais do que nós. Sempre com um sorriso no rosto.
A minha avó Elvina tinha o condão de atrair pessoas à sua volta – a sua sala era uma espécie de tertúlia, que se enchia de confidências e conversas.
Os últimos anos da sua vida foram duros – uma trombose arrastou-a para uma cadeira e aí passou a ser o centro da sua vida. Durante os largos anos em que lá viveu, nunca lhe faltou a companhia de amigas, que passavam, literalmente, horas, sentadas ao seu lado, partilhando conversas, memórias e uma pitada de rapé.
A minha avó Elvina assistiu ainda à doença do marido – um cancro no cérebro duríssimo - e, nos entretantos, perdeu ainda parte de uma perna, por causa dos diabetes, mas nunca perdeu o sorriso.
Já eu, perdi-a fisicamente faz hoje 21 anos, naquele que foi, seguramente, um dos dias mais tristes da minha vida, até ao momento.
Hoje, sei que o seu corpo já cá não está, mas sinto o seu espírito e a sua presença desde então, e tento que a sua memória se mantenha viva.
Sei que vela por mim e que me protege, e acredito que está lá no alto, a trocar gargalhadas com as amigas, o marido e o filho, que também partiu cedo demais, entre um chá e uma pitada de rapé.