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Fev06
Mini-saia literária...
Mónica Lice
- Não se trata de uma mini-saia em particular, mas sim de várias peças de roupa, com mensagens mais ou menos completas, num texto de Carlos Drummond de Andrade (in Para Gostar de Ler-adaptado):
Calça literáriaÉ assíduo leitor de blusas, camisas, saias, calças
estampadas. Não lhe escapa um exemplar novo. Parece desligado e observa tudo.
Segundo ele, as peças de indumentária, masculina e feminina, ostentando símbolos
e nomes de universidades americanas, manchetes, páginas de jornal, retratos de
Pelé e Jimi Endrix, apelos ao amor que não à guerra, etc., há muito deixaram de
ser originais. Constituem invólucros rotineiros de pessoas de qualquer idade. A
gente estranha é uma camisa inteiramente nua de dizeres ou figuras, a roupa que
não diz nada, só roupa. Hoje, lê-se mais nos tecidos do que nos livros, e não é
ler apenas, é ver cinema e televisão, pois os corpos, ao se moverem, dinamizam
as figuras estampadas, o que, de um modo ou de outro, contribui para a cultura
de massas. Informa: - Estou pensando em aproveitar esse material para fins
especificamente didácticos. Através dele, ensinar Geografia, História,
Matemática, Medicina, Imposto de Renda, Ortografia, essas coisas. O indivíduo
cobre-se e vai distribuindo ciência. Ou aprendendo. Vinte minutos no autocarro –
que aula! Classes ao ar livre, na feira, na fila. Escola dinâmica. - Ontem eu li
uma calça comprida, de mulher, que à primeira vista não tinha nada de especial.
Estava escrita como tantas outras. Mas o texto (não confundir com textura)
chamou-me a atenção. Geralmente, calças e blusas não são literárias. Trazem
notícias, anúncios, slogans, mas versos, ainda não tinha visto. Pois essa tinha
poemas em português, de Camões ao Vinícius. […] Em todo o caso, trata-se da
primeira calça poética luso-brasileira. Os poetas que tratem de defender os seus
direitos de autor. A menos que considerem uma honra vestir de versos as
mulheres.