Nuno Baltazar na ModaLisboa (+ entrevista)
Nuno Baltazar é conhecido pelas suas coleções glamorosas e sofisticadas, e, ontem, não desiludiu a sala, cheia, de mulheres (e não só) que se acotovelavam para ver bem de perto as suas últimas propostas.
The man I love - foi este o título que foi dado à coleção, e que é também o nome da música criada em 1924, por George Gershwin e o seu irmão Ira. Pina Bausch foi outra inspiração - bem presente nos drapeados, que nos remetem imediatamente para a ideia de movimento.
Pessoalmente, gostei das linhas, adorei o laranja (que combinava na perfeição com o casaco que usei ontem), apreciei os acessórios e alguns vestidos, saias e casacos.
No final do desfile, entrevistei o Nuno e o resultado pode ser lido abaixo...
Esta coleção foi projetada para que tipo de mulher?
Esta coleção foi projetada para emoções femininas - foi esse o meu princípio. Assim, eu imagino que o maior número de mulheres se possa identificar com ele. Não com todas as peças - algumas sim, outras não. Mas eu também não gosto que a mulher Nuno Baltazar vista Nuno Baltazar na íntegra. Goste que ela interprete e misture com peças mais descontraídas ou até mais formais.
Acho que são peças com carácter suficiente para serem misturadas com outras.
Se tivesse selecionar um só coordenado ou uma só peça - qual seria e porquê?
Se pudesse ser só um detalhe, escolheria as mangas - o trabalho de mangas e o seu drapeado, que vem de dentro para fora, em peças mais "nervosas" e delicadas, em tecidos mais "nervosos" que desciam sobre outros, mais compactos.
E isto tem a ver com uma das inspirações da coleção, que é a Pina Bausch e um excerto específico de um filme, em que uma bailarina tem um homem por detrás, e são os braços dele que fazem o movimento. Assim, essa proteção específica sobre a mulher, os ombros, e esse trabalho forte, que acabou por ser salientado nos drapeados.
Nota-se que as suas coleções apresentam cada vez mais acessórios. Os mesmos são projetados juntamente com a roupa, ou o processo criativo ocorre depois?
O trabalho é feito à parte e é normalmente a última coisa que eu faço. Ou seja, desenvolvo a coleção toda e depois penso que acessórios é que aquela coleção precisa.
Quando estou a desenhar não penso "aqui vou pôr um cinto..." - faço isso na preparação do desfile, e questino que tipo de acessórios é que ela precisa.
Acho que é fundamental que uma coleção seja cada vez mais completa e os acessórios são incontornáveis numa marca de autor.
Reparei que nesta coleção há uma quase ausência de prints. Foi propositado? Não gosta?
Eu gosto, mas não achei que nesta coleção fosse fundamental. Se calhar pelo facto de haver tanto print em todas as coleções.
Eu tinha alguns prints para esta coleção, mas acabei por desistir deles. A uma dada altura, desisti, ao olhar para tanto print em tanta coleção, tantos digitais, e eu não queria nada disso. Pretendia uma coisa muito orgânica e, ao mesmo tempo, não óbvia.
Por fim, que mensagem gostaria de deixar às mulheres portuguesas que ainda não consomem moda portuguesa?
Eu acho que é só desmistificar - não terem vergonha de procurar a moda de autor portuguesa. Aquelas que tenham maior capacidade financeira podem procurar o ano inteiro, e as que não têm, há "épocas maravilhosas" chamadas saltos, stock offs, nas quais todas as mulheres podem encontrar uma peça de autor português. E eu acho que faz cada vez mais sentido que assim seja - uma vez que ela é pensada para elas.
Fotos: ModaLisboa/Rui Vasco.